quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O 4º PODER


A Imprensa, as Notícias e a Falta de Valores e de Amor à Verdade



Amar a verdade não é, em muitos casos, uma mera concordância do que se diz ou do que se escreve com os factos. E um exemplo maior disso mesmo é o moderno jornalismo.

Muito do que se diz ou se escreve no jornalismo pode ser verdadeiro, no sentido estrito do termo. Mas aquilo que é tema jornalístico dominante – os crimes domésticos, as agressões, as manifestações nacionalistas, o cor-de-rosa, o escandaloso – revela uma estranha inversão de prioridades e muitas omissões. Esquece-se e relega-se para segundo plano o que é fundamental, o que tem a ver com a sabedoria, com a humildade, com a tolerância, com valores éticos. Ou seja, por outras palavras: há falta de amor à verdade, no sentido mais pleno do termo.

Quando confrontados com estas críticas, muitos jornalistas - e as empresas que os sustentam - limpam as mãos e apontam o dedo acusador ao público. Não se pode sobreviver e crescer sem audiências e tiragens. Os meios de comunicação oferecem aquilo que o público quer. Se está mal, culpe-se o público. No jornalismo, como noutros aspectos da vida, não se seguem princípios de amor (neste caso de amor à verdade). Não há lugar a moralismos.

Pois. Há uma base factual nestes argumentos. Existem nas nossas sociedades maiorias da população largamente analfabetas a muitos níveis, sem curiosidade intelectual, sem capacidade crítica. Mas se o jornalismo e a cultura alimentam esses grupos e essas audiências, se respondem aos instintos e reflexos mais primários do homem, se não se introduz um sentido ético na informação e na produção cultural, se não se cultiva a sabedoria e a elevação moral, o que é que nós podemos esperar das nossas sociedades?

Como é que podemos lamentar a violência, o crime, o acefalismo, os nacionalismos, as guerras, a mediocridade? As sociedades que temos não deixam de ser o reflexo de círculos viciosos, em que as leis de mercado, aliadas ao lado inferior da natureza humana e aos nossos instintos mais animais e básicos, criam padrões informativos e culturais ao nível do queque Wilmott Lewis classificou como um jornalismo centrados nos «gatos da senhora Hastings»:


Penso por bem recordar que quando escrevemos para os jornais, estamos a escrever para um velha senhora de Hastings, que tem dois gatos de que ela se orgulha profundamente.

Willmott Lewis, 1877-1950, jornalista, In Time of Trouble, de Claud Cockburn




Citações
O 4º Poder: A Imprensa vista numa perspectiva satírica

Há leis para proteger a liberdade de imprensa, mas nenhuma que consiga proteger o povo da imprensa.

Mark Twain, 1835-1910, escritor americano, License of the Press


Quando um cão morde um homem, isso não é notícia, já que acontece demasiadas vezes. Mas se um homem morde o cão, isso é notícia.

John B. Bogart, 1848-1921, jornalista americano, citado em The Story of the Sun, de F. M. O’Brien


O jornalismo consiste largamente em dizer ‘Lorde Jones morreu’ a pessoas que nunca souberam que Lorde Jones estava vivo.

G. K. Chesterton, 1847-1936, escritor e jornalista inglês, Wisdom of Father Brown

O jornalismo envolve gente que não sabe escrever, entrevistando gente que não sabe falar para gente que não sabe ler.

Frank Zappa, 1940-93, actor norte-americano, em Loose Talk, de Linda Botts


A imprensa é notoriamente incapaz de distinguir entre um acidente de bicicleta e o colapso de uma civilização.

Atribuído a Bernand Shaw, 1856-1960, escritor irlandês


Os hospitais são corruptos. Os juízes são corruptos. Toda a gente do mundo é corrupta. (...) Mas os nossos jornais são um grande monumento ao idealismo.

Christian Williams, em Newark Star Ledger, 9 April 1990, The Best Notable Quotables of 1990, The Linda Ellerbee Awards

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